quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Antirreflexo

Memórias rasgadas
Aparentemente apagadas
Tinta bruta permanente
Permanentemente afiada

Sangra o que não deve
Porém, o que não se percebe
É o gosto...gostoso
De quem gosta do desgosto

De quem sente o assombro
De tudo que não lhe convém
Quando na melhor companhia
A solidão lhe cai bem

Memórias anuviadas
Pela tinta que dimana
E mancha a marcha do tempo
Que devagar flui como um rio...sedento

Sangria desenfreada
Sanguessugas da alma
Das almas penadas que somos nós
Sozinhos em nossos lençóis

Espelho meu abdica desta farsa
E só reflita o que for verdadeiro
Sem truques, caras e bocas 
Apenas a face hermética...ainda presa no cativeiro

Antirreflexo da felicidade
Que não suporta o fim...start da vaidade
Mesmo não entendendo
Que o mesmo está ao lado de cada início inesperado

Continua...

Antirreflexo II (tabula rasa)

Constrói a história do tempo
O tempo que se inicia após o fim inesperado
Já que juntos cursam por toda a eternidade
E combatem o antirreflexo da felicidade

Feliz seja tudo que lhe convém
E o que não...amadureça longe do seu quintal
Seja feliz mesmo que não convenha
Pois o que se colhe verde apodrece no final

Grandes novidades no museu da alma
Pinturas, musas e esculturas...de carne
A entrada é franca...ou quase nada
Apenas deixe para trás a tinta já usada

Somos tabulas-rasas prontas
Prontamente inconscientes do que nos espera
O certo é que o preenchimento é inevitável
Inevitavelmente recobre as manchas de outra era

Uma semente cresce em seu jardim
Florestas voltamos a ser
Pois mesmo em terrenos inóspitos ouve-se o toque do clarim
Proclamando que voltamos a ter...o que nos faltava...ser

Hoje, nem tintas afiadas
Nem tabulas-rasas
O preenchimento inevitável aconteceu
Assim é você...assim sou eu

Tiflose

Às vezes, ser cego é enxergar além.
Sentir
As saliências do seu semblante desbotado
O bálsamo da matiz púrpura de seus olhos
O volume inesperado de tua boca

Ilumina
A paisagem do meu olhar
O breu do que vejo
Que se colore nos devaneios contidos em você

Vejo
O sentimento tão aguardado
Impossibilitado tantas vezes
Pelo conceito pré-deformado

Comportas
O meu mundo em desejos profundos
Profanas alegrias
Clareiam o mais inóspito dia

Enceta
A vida tão resguardada
Hirta pela luz, claridade que falta
Assustada pela cor que tinge minha alma

Aprendi
Que sobrevivendo vou aprendendo a sobreviver
E que sobre viver
É viver vivendo intensamente sem saber

Concluí
Que a luz que me falta não faz morrer
Pois a luz que importa, ilumina e salta aos olhos de viver
Está bem a frente...está em você 

Reinventar


Com tudo em volta
Nada me surpreende
Não há mistério que eu não saiba
Não há descoberta já eminente

Com todos em volta
Nada me tenta
Não há pessoas complexas que eu não entenda
Não há desejos já desdobrados

Com a fome saciada
Migalhas resumidamente coletadas
Não há coração contido
Não há pensamentos famintos

Com os lábios úmidos
Umedecidos pelo complementário
Não há saliva mais viva
Não há doce mais exaltado

Com...pleto sou neste instante
Dúvidas...incertezas...distantes
Não há sobras para atrelar
Não há linhas para enlaçar


Tenho que me reinventar


Com nada em volta
Tudo pode ser novo no ausente
Insinuantes rebeldias femininas
Desembrulhadas como presentes

Com ninguém em companhia
Tudo é metediço
Pessoas implexas virtuosas
Com anseios reprimidos

Sem a fome de palavra
Letras esmigalhamente soletradas
Coração circunspecto
Circunspectamente esmigalhado

Com a boca sedenta
Longe de outros exemplares
Secura morta de vontade
Salga o céu da promiscuidade

In...completo volto a ser
Afirmações...certezas....ao longe
Pedaços em todo lugar
Cordas para se enforcar


Tenho que me reinventar